quarta-feira, 12 de março de 2008

OS ASSUSTADOS EM MINHA VIDA

Por Mizak Albuquerque


Uma noite dessa, o meu computador resolveu não querer funcionar, o jeito foi pegar o controle remoto da televisão e sair procurando algo inteligente na TV aberta. Na MTV, encontrei um “reality show” em que alguns rapazes, escolhidos pela emissora de TV, foram reunidos em uma casa de praia, não sei qual o objetivo final do programa, só sei que nesse episódio os rapazes reuniram várias garotas (um número muito maior que o deles) para se divertirem, numa suposta festa organizada por eles. A partir desse programa televisivo, me veio a mente os anos sessenta e setenta do século passado, anos esses de muita movimentação política e cultural, sendo comum entre os jovens pobres da época, escolherem para se reunirem nos finais de semana uma residência de alguém do grupo para dançar e paquerar. Eram os famosos assustados, que por muito tempo uniu e criou amigos nessas reuniões dançantes em família.
Os assustados eram talvez uma das melhores formas para ocupar os jovens pobres da periferia em uma diversão boa e barata, pois bastava uma vitrola portátil ou até mesmo de móvel, alguns bons discos dançantes e para desinibir, um ou dois litros de rum e muita “coca-cola” para se fazer o famoso “cuba libre” e dessa maneira ficarmos dançando e jogando conversa fora até alta madrugada ou quando o pai do dono da casa resolvesse encerrar o nosso assustado daquele final de semana. Dificilmente esses jovens se voltavam para o uso de alguma droga ilícita ou se tornavam alguém nocivo à sociedade. Normalmente dessas reuniões saíram muitos casamentos que duram até hoje, pois era comum, rapazes levarem suas namoradas ou os que não as tinham, arranjarem alguma quando dançavam ao enlevo de alguma música mais romântica que propiciava o início de algum idílio amoroso.
As músicas dessas reuniões eram as que estavam na paradas musicais nacional ou internacional, músicas de Roberto Carlos o “Rei da Jovem Guarda” eram obrigatórias em todos os assustados da época, alem de Roberto também faziam parte do repertório nacional, cantores como Jerry Adriane, Vanderley Cardoso, Erasmo Carlos “O Tremendão” Vanderléia, Martinha, Rosimery e vários outros. Os internacionais eram Elvis Presley, Paul Anka, Neil Sedacka, Ray Charles e outros, que ainda hoje, mais de quarenta anos depois as suas músicas são tocadas e fazem sucesso. O segredo de tudo isso talvez se deva ao formato simples de cantar o amor, como fala Roberto Carlos em um de seus sucessos “Jovens Tardes de Domingo”.
A evolução das letras de música nos últimos quarenta anos sofreu bastante alteração. O movimento da “Jovem Guarda” no seu nascimento, não foi bem vista pelo grupo da “bossa nova”, liderados por Tom Jobim, Nara Leão, João Gilberto e outros, pois não era considerado como interprete da autêntica música brasileira (MPB). Durante bom tempo esse preconceito perdurou. E foi a jovem guarda que começou a utilizar em suas músicas, letras simples e melosas, sem muito rebuscado e que por isso caiu no gosto popular. Apesar da simplicidade das letras, não havia vulgaridade e nem a duplicidade de sentido tão pobre como algumas músicas de hoje, que deixaram de lado o duplo sentido para usarem o sentido totalmente explicito.
Outro fator que deve ser levado em conta é a violência, não que na década dos assustados não a houvesse, mas era limitada e em determinada área, dificilmente extrapolando os seus limites. A violência nos assustados não passava de troca de socos e pontapés que no máximo deixava um olho roxo ou alguns hematomas no corpo, dificilmente acontecia morte ou algum dano mais grave. Em meu entendimento o sentido explícito das músicas atuais tem ajudado bastante na evolução da violência, pois aguça a sexualidade e sempre surge algum engraçadinho querendo avançar na parceira de outro que por sua vez não gosta e vê nisso uma provocação que em muitos casos termina em tragédia.
Outro movimento do momento que chama atenção é a chamada festa “Rave” que ao som de música eletrônica e regada a drogas sintéticas tem reunido muitos jovens onde são realizadas. Esse movimento tem sido bastante criticado pelos meios de comunicações em virtude de nesses encontros acontecerem mortes de jovens que vão para lá com o intuito de se divertirem.
Os assustados diferentemente dos movimentos atuais eram de uma ingenuidade a toda prova, onde seus jovens eram bem comportados e usavam as suas residências para se divertirem nos finais de semana, ao contrário das reuniões dos jovens da atualidade que nada mais são que reuniões de jovens alienados, que vêem na droga ilícita e no martelar constante da música eletrônica em sua cabeça, ou das músicas com letras de gosto duvidoso, cantadas por bandas também de gosto duvidoso, um motivo para se afastarem das suas frustrações e manterem as suas alienações.

Um comentário:

Bete Meira disse...

Amei o post!Participava de alguns "assustados",que também eram chamados de "assaltos",tinha luz violeta,dança do cabide,kkkkkkkkk...
Muitas "músicas" atuais,são lamentáveis,nem as considero músicas,mas lixo mesmo. Parabéns pelo belo texto!